segunda-feira, 30 de maio de 2011

Quem nunca se sentiu um lixo? Uma verdadeira merda? Ela se sentiu assim, o tempo todo, a vida inteira. Mas tenta esconder isso das pessoas, buscando mostrar uma segurança que não existe. Como podemos convencer a existência daquilo que é só fachada? Ah! Faça tudo de modo muito intenso, não deixe transparecer dúvidas. Uma pessoa de opinião. Mesmo que ofenda. Ah! Como isso é relaxante. O que interessa além dessa postura arrogante?
Mas quem disse que se esconder é sinal de inteligencia? Quem assegurou que não ter dúvidas é algum bom sinal? Ela continua a se sentir uma merda. Ela continua a se sentir um lixo. Mas agora ela tem total convicção do seu estado lastimável.

sábado, 26 de junho de 2010

As pessoas se observavam, esperando alguma reação, algum motivo para que, também, pudessem reagir. Ficaram horas paradas, pensando coisas que não faziam sentido (ou no que fazia sentido, mas não queriam/era difícil demais assumir), até que Mariana levantou e saiu da sala. Sem mais, sem menos... Ela foi embora. Daniel, que estava do lado dela olhou espantado e gritou: "Espera, moça!", mas a garota nem olhou para trás, continuou seu caminho rumo à porta que a levaria a um corredor e, finalmente, à rua. Outros, que estavam, também, na sala resmungavam uns com os outros, uma garota começou a murmurar uma música. Graças à Mariana, a sala deixou de ser morta.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

As tristezas do mundo estavam todas dentro dela. Suas alegrias são tão ligeiras, sua satisfação é tão pouca...
"Ela se faz infeliz", foi o que falaram sobre ela quando perguntei o porquê daqueles olhos tão manchados, tão sofridos - "a tristeza está no modo com que vemos as coisas"; falou o velho que, sentado em uma cadeira estrategicamente posicionada e fumando seu cigarro, pensava sobre os erros tão iguais de pessoas tão diferentes.

Eu também era tão triste. O caminho felicidade não me era suficiente. Ninguém me era suficiente. Eu era tão igual a ela, apesar dos meus risos e simpatias...

Um dia, a encontrarão morta, e com o semblante mais suave. Um semblante mais suave, porque os mortos não conseguem escolher entre ser infelizes ou felizes. E eu, neste dia, terei muita inveja dela.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Não havia nada no cômodo, além da cadeira desconfortável e suja. As paredes manchadas de tons que me lembravam vômito cobriam toda a tinta velha. O chão estava coberto por poeira e pedaços de jornais velhos. A porta tinha o lado esquerdo empinado e a maçaneta só funcionava se aplicássemos muita força e, mesmo assim, se estivéssemos no lado de dentro.
Eu me trancara propositalmente, estava com a mente tão poluída como aquele ambiente, me adaptei instantaneamente. Eu me sentia suja... impura. Isso acontece quando não se sabe o que quer/o que é.
Eu havia entrado correndo naquele bar, fui em direção dos fundos e sabia que todos tinham me seguido com os olhos, talvez pensando que eu estivesse passando mau, ou que estivesse prestes a violentá-los... Eles não poderiam saber que a cota de sacanagem do dia já tinha sido ultrapassada, afinal, ninguém daquele lugar me conhecia. Eu não me reconhecia...
Fiz questão de ignorar os berros daqueles que tentavam entender o porquê d'eu estar ali, eles esmurravam a porta e ela ia cedendo... até que um dos donos dos berros conseguiu abri-la e entraram... eu não tive forças para me mover. Eles me cercaram e tentaram entender a situação; fizeram perguntas, mas ficaram sem as respostas. Eu me levantei, calmamente; eles ficaram me olhando, esperando as minhas ações, eu solucei algumas desculpas, pedi a um deles um copo com água e eles me permitiram sair do bar. E eu fui. Correndo... correndo... correndo..

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Eu tenho medo. MEDO. Temor de que tudo volte. De que tudo seja. Eu tenho medo de que eu não entenda que é melhor não ser. E de que você não entenda também. Eu tenho medo de que entendamos, mas que isso não facilite muito as coisas...
Eu queria um telefonema. Eu queria dois, três. Eu queria mais. MAIS! Eu preciso do seu limite. Eu preciso ver seu limite. Não quero te testar, que isso fique claro; isso tudo é porque tenho medo. Eu tenho medo (MEDO) de esperar muitas coisas, mas eu espero. E espero ser surpreendida. Eu espero ser surpreendida? Eu preciso, pois tenho medo. Mas esperar ser surpreendida faz com que eu espere mais e, assim, eu me decepcione mais. Eu tenho medo de que valha a pena não ser.
Eu tenho medo... de tudo que se relaciona a tal ser.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Não havia nada. Era o espaço. Vazio. Era um ódio. Um tempo. Escuro. De repente, clareia. Há luzes! É magica!
É mágica?
Com a luz permitiram que ela visse as lágrimas... que visse o desespero. O desespero ela já conhecia. As lágrimas também. Do desespero ela escutara os gritos e nunca pensara que tivesse uma aparência tão fraca. Como conseguia gritar tão forte? Já das lagrimas ela já sentira o toque, gelado, impertinente, doentio...
E com as luzes, percebeu que o tudo era nada. Que o vazio era cheio. Que o tempo era relativo. E que o ódio continuava ódio. Tentou olhar o ódio de perto pra ver alguma mudança, mas ele continuava firme, teimando e violentando fosse quem fosse. Mas, ao olhar bem fundo em seus olhos, pôde notar uma grande quantidade de estupidez. Nunca notara!
Mas as luzes se apagaram novamente. Recolheu-se em seu canto e se permitiu pensar.

domingo, 21 de março de 2010

Ainda tinha um pouco de vinho na garrafa, decidiu aproveitar as últimas gotas. Normalmente, seriam as últimas gotas que beberia naquela noite, mas ela abriria outra garrafa. O tempo estava fresco, como há muito tempo não estava. E ela estava sozinha, como havia acostumado a estar.
O vinho tinha um gosto forte, um cheiro forte e ela, fortemente, se lembrava das coisas que havia vivido naquela sala. A música tocava independente de sua vontade, Elis Regina se empenhava em emocionar aqueles que a escutavam, mas não precisava disso...
Resolveu se cobrir, e curtir as taças que trazia o tempo de volta. Não, ela não dormiu n'aquela noite, mas foi bem melhor do que qualquer sonho que poderia ter sonhado.